domingo, 19 de outubro de 2008

ENTREVISTA EXCLUSIVA SOBRE MÉTRICAS COM CLAUDIA HAZAN




Pessoal,


hoje temos um convidado especial nesta entrevista: Claudia Hazan.



Vejam no último post deste blog uma palestra dela num evento nos EUA - vejam a foto dela abaixo deste mesmo evento.





Ela é Mestre em Sistemas e COmputação e especialista em Qualidade e Métricas. Dispensa qualquer apresentação. A carreira dela fala por ela. Vejam a maravilhosa entrevista desta inovadora para nosso blog (esta entrevista é uma das muitas entrevistas que estão sendo publicadas neste blog - muitas outras virão):

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MOLINARI: Claudia, é um prazer enorme tê-la como entrevistada em meu aqui em meu Blog. Para quem não sabe Claudia Hazan escreveu o prefácio de meu ultimo livro, Gerência de Configuração, que tem tido uma grande receptividade na área de Qualidade. Muito obrigado pelo belo prefácio. A intenção aqui é batermos um papo bem vontade sobre Métricas e sua importância nos projetos, que é uma de suas especialidades. Antes de começarmos, conte-nos um pouco de sua trajetória profissional até chegarmos hoje: uma profissional que possui métricas no "Código Genético", falando de uma maneira bem simples.


CLAUDIA HAZAN:
Leo, inicialmente muito obrigado pelo convite. É uma honra está sendo entrevistada no seu Blog, do qual sou fã. Adoro seus artigos, livros.... Respondendo a pergunta, conheci a Análise de Pontos de Função em 1995, era estagiária de desenvolvimento de software e assisti uma palestra sobre o assunto na empresa. Como estagiária, estava aprendendo a desenvolver software e tinha demanda de desenvolver um módulo de um sistema. Meu gerente sempre me perguntava, “ Claudinha, quanto tempo você estima terminar de desenvolver a função XPTO”. Eu não sabia responder, não conhecia o processo de desenvolvimento de software, a linguagem de programação, a aplicação... Estava aprendendo Análise Estruturada, Banco de Dados estudando apostilas do meu chefe, ainda não tinha aprendido na faculdade. E então, qual resposta... quanto tempo? Minha resposta foi a seguinte: “Qual é o tempo que os outros estagiários sem conhecimento de desenvolvimento de software têm levado para desenvolver uma função similar a esta”. Eu não conhecia a área de estimativa, mas a minha resposta intuitiva foi baseada em Banco de Dados histórico de aplicações, documentação de lições aprendidas. Na palestra de Pontos de Função, observei uma maneira de poder estimar o desenvolvimento de software. E decidi pesquisar sobre o assunto na Universidade. Em 1996, meu projeto final de graduação foi sobre......??? Análise de Pontos de Função, é claro. Então, decidi continuar os estudos no Mestrado em Qualidade de Software, me interessei pelos indicadores. Em 1999 defendi minha Tese de Mestrado no Instituto Militar de Engenharia (IME) sobre Indicadores de Software. Em 1998 comecei a trabalhar com Análise de Pontos de Função no SERPRO. Em 2001 obtive minha primeira Certificação de Especialista em Pontos de Função – CFPS (Certified Function Point Specialist). Assim, posso dizer que comecei a pesquisar medições de software em 1995 após a palestra e a trabalhar com medições de software em 1998. E adoro minha profissão de Consultora de Métricas de Software do SERPRO.

MOLINARI: Você terminou sua tese de Doutorado,
certo? Fale um pouco sobre ela, e onde pode ser aplicada e
qual sua correlação com a área de Métricas.

CLAUDIA HAZAN:
Leo, defendi minha Tese sim, em um meio de ofensas para mim e para todos os profissionais competentes da indústria software, como: “Pontos de Função não é válido” e “A indústria implanta qualquer coisa”. Respondendo: Professor, com todo o respeito as suas palavras, os profissionais que trabalham na indústria de software não implantam qualquer coisa. Eles são cobrados por resultados, são avaliados. E quanto a validade da métrica Pontos de Função. A ISO reconheceu o PF Não Ajustado como métrica de Tamanho Funcional. E ainda, ressalto, que a métrica Pontos por Casos de Uso, um tanto subjetiva, não foi reconhecida pela ISO.
Leo, você e várias pessoas me enviaram e-mails e me telefonaram me parabenizando e pedindo minha Tese. Peço desculpas a você e a todos por não enviar minha Tese. De fato, a PUC divulgou na Internet que minha Tese estava publicada na Biblioteca do Departamento de Informática, mandou o resumo de minha Tese para o Banco de Teses da CAPES, sendo este disponibilizado na Internet. No entanto, estou processando a PUC Judicialmente, envolvendo minha Tese. Infelizmente, não posso divulgar minha Tese enquanto esse problema não se resolver na Justiça. Mas, posso falar sobre a Tese e minhas pesquisas. Desenvolvi um método de estimativas de tamanho de projetos de software em Pontos de Função, denominado CEPF (Contagem Estimativa de Pontos de Função). Tenho utilizado este no SERPRO e ensinado ele para os meus alunos. O método permite a estimativa dos Pontos de Função na primeira reunião com o cliente, com uma excelente acurácia, os experimentos mostraram erros menores que 10%. Mas, essa não é a única contribuição de minha Tese, o método permite identificar defeitos em requisitos, durante a estimativa. Imagine uma inspeção de requisitos sem custos, realizada durante a estimativa. A literatura apresenta diversos métodos de inspeção de requisitos, mas são muito custosos. O meu método não tem custo e os resultados dos experimentos foram muito bons. A indústria, de um modo geral, precisa investir na melhoria da qualidade dos documentos de requisitos. O documento de requisitos é a base para a construção do software, para o acordo entre cliente e fornecedor e para a Contagem de Pontos de Função. Por isso, meu interesse na Engenharia de Requisitos, como consultora de requisitos, sou usuária de documentos de requisitos. E ainda, o resultado do meu trabalho de estimadora, depende da qualidade dos documentos de requisitos, por isso preciso garantir a qualidade destes.

MOLINARI: As pessoas confundem muito estimativa com
métrica. Seria possível explicar-nos melhor?

CLAUDIA HAZAN:
As métricas são usadas para apoiar os processos de estimativas. Eu utilizo a métrica Pontos de Função para estimar o tamanho funcional de projetos de software. A métrica HH (Homem Hora) é usada para estimar o esforço dos projetos. A métrica Ponto de Função não é uma estimativa de esforço. O tamanho funcional de um projeto em Pontos de Função e os requisitos não funcionais do projeto são usados para estimar esforço.

MOLINARI: Quais são os "papas" nesta
área? Quais as grandes diferenças de visões de cada um?

CLAUDIA HAZAN:
Meu guru na área de métricas é o Capers Jones, sou fã dos livros e artigos dele. Ele foi o Keynote Speaker no Conferência Anual de Métricas promovida pelo IFPUG – ISMA (International Software Measurement & Analysis). Existem muitos outros excelentes profissionais na área de métricas, prefiro não citar nomes. Ao assistir as palestras no ISMA, onde fui também palestrante, pude observar que a visão dos profissionais de métricas está alinhada. Aonde vai existir divergências é na visão de algumas pessoas do meio acadêmico “especialistas” em Análise de Pontos de Função e os especialistas de fato que trabalham como Consultores de Métricas na indústria. Eu já li algumas “pérolas” em artigos publicados em Congressos Acadêmicos, contrariando os conceitos e fórmulas do manual de Práticas de Contagem de Pontos de Função (CPM) e o pior que as “pérolas” referenciavam o CPM. Fico preocupada com essa disseminação de conceitos errados. Atualmente, existem muitos contratos de software, baseados em Contagem de Pontos de Função. É importante para a indústria contar Pontos de Função corretamente, seguindo as regras de contagem do CPM.

MOLINARI: Quais os maiores problemas para quem usa
diariamente métricas?

CLAUDIA HAZAN:
Atualmente, o maior problema são muitas demandas, sobrecarga de trabalho. Será que isso é problema? Na minha opinião, isso não é problema para quem gosta do seu trabalho. Algumas situações estressantes são as discussões de Contagem de Pontos de Função. A função X conta, não conta.....
A habilidade de comunicação oral e escrita faz parte do conjunto de competências que um Consultor de Métricas deve ter.

MOLINARI: Quais os maiores problemas para quem quer
aprender a usar métricas? Algumas dicas?

CLAUDIA HAZAN:
A área de métricas está em expansão, tenho recebido várias oportunidades de trabalho.... Assim, é uma excelente área para se ingressar. Um Consultor de Métricas tem que ter o perfil de pesquisador e estar sempre buscando novos conhecimentos. A área de métricas apoia a implantação da Qualidade de Software, assim o profissional deve conhecer os modelos de qualidade de software. Para quem quer trabalhar com contagem de Pontos de Função é fundamental a especialização em requisitos. No momento, além de métricas, estimativas, estou pesquisando a Governança de TI, Planos Estratégicos de TI. Um Consultor de Métricas não pode parar no tempo. No ano que vem, tem versão nova do Manual – a publicação do CPM 4.3 está prevista para o ano que vem.

MOLINARI: Tirar conclusões de métricas, ou de um histórico de métricas, é "um bicho de sete cabeças"? já passou pro algum caso complicado?

CLAUDIA HAZAN:
Leo, infelizmente analisar dados históricos tem sido complicado sim. Algumas empresas estão contando Pontos de Função de maneira errada, convertendo horas para PF, convertendo Pontos por Casos de Uso para PF ... Assim, muitas vezes, os dados históricos não são úteis. Eu tenho preconizado o seguinte “Não conte Pontos de Função. Conte Pontos de Função corretamente”.

MOLINARI: Um executivo de TI, por exemplo, pode ter que tipo de métricas a sua disposição para que suas decisões possam se apoiar?

CLAUDIA HAZAN:
Existem muitos indicadores importantes. Mas, um executivo, precisa de um “painel de bordo”, ou seja um conjunto mínimo de indicadores para apoiá-lo nas decisões de investimentos. Na área de processo de software, considero importante, indicadores de produtividade, qualidade e custo. É importante também buscar dados de Referenciais de Excelência via Benchmarking.

MOLINARI: Existem boas ferramentas de software de apoio nesta área?

CLAUDIA HAZAN:
Existem sim. No ISMA conheci uma ferramenta de estimativas, denominada SLiM. É uma excelente ferramenta. Essa ferramenta estima prazo, custo, esforço, apoia na análise de riscos. Na área de Pontos de Função, conheço a ferramenta Function Point Workbench. Na área de definição de indicadores, temos o PSM Insigh.

MOLINARI: Até que ponto métricas podem ser usadas
para controlar um Projeto de Software?

CLAUDIA HAZAN:
Podemos definir indicadores para acompanhar o progresso do projeto, a evolução de requisitos. O modelo PSM (Practical Software Measurement) tem sido utilizado para a definição de indicadores e implantação de processo de medições. De fato, a área de medições e análise está contida no nível 2 do CMMI, demonstrando o reconhecimento da implantação de um processo de medições logo no início da jornada em busca da Qualidade Total.

MOLINARI: Quais as novas tendências na área métricas?

CLAUDIA HAZAN:
Um dos Comitês do IFPUG está definindo um método para avaliar tamanho de requisitos não funcionais. Isso é muito importante no cenário atual da indústria de software brasileira, que está estabelecendo contratos baseados em preço/Ponto de Função. É importante definir preço variável para o Ponto de Função porque o esforço e consequentemente o custo para implementar um Ponto de Função é variável, devido aos requisitos não funcionais. Mas, como avaliar de maneira objetiva essa variação? Eu penso que uma métrica que trate tamanho de requisitos não funcionais pode ajudar. Outro tema importante para a pesquisa é a utilização das medições no apoio à Governança de TI.

MOLINARI: Pra terminar: dá para nos dar algumas
dicas boas de livros para quem quer aprender e se atualizar?
Sites, artigos que devemos ler com todo atenção?

CLAUDIA HAZAN:
A área de métricas possui muitos temas para pesquisa. O primeiro passo é conhecer a Análise de Pontos de Função. Assim, vou indicar a biblia Counting Practices Manual (CPM), o site do IFPUG (International Fucntion Point Users Group): www.ifpug.org, o site do BFPUG (Brazilian Function Point Users Group): www.bfpug.com.br. Depois, pode-se estudar a área de processos de medições, onde indico o site do PSM (www.psmsc.com). O livro do PSM indicado no site é excelente. Também tem a área de estimativas, modelo COCOMO II e outras literaturas específicas. A área de Qualidade de Software, modelo CMMI. A área de Gerência de Projetos, PMBoK. A área de métricas é aplicada em várias áreas. Por isso, que eu coloquei que o Consultor de Métricas tem que ter perfil de pesquisador.

MOLINARI: Muito obrigado!!!

CLAUDIA HAZAN:
Obrigado pelo convite Leo. Aproveito a oportunidade para compartilhar minha Palestra de Contratos de Pontos de Função, publicada na Conferência de Métricas ISMA, traduzida a pedido dos colegas.

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Espero que tenham gostado da entrevista dela. Vejam abaixo, uma foto dela comigo em 2007, no dia lançamento de meu livro "Gerência de Configuração" na livraria Saraiva Mega Store no Centro da cidade do Rio de Janeiro.



Um abraços a todos,


Leonardo Molinari
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http://diariodaqualidade.blogspot.com/
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