quarta-feira, 15 de agosto de 2007

*** ENTREVISTA COM IVO MICHALICK ***



ENTREVISTA SOBRE INOVAÇÃO E EXPORTAÇÃO
DO SOFTWARE BRASILEIRO COM IVO MICHALICK


-MOLINARI: Ivo, é um prazer enorme tê-lo como entrevistado aqui
em meu Blog. Para quem não sabe, Ivo Michalick é Diretor de
Projetos da Vetta Technologies e, moderador do Yahoo Groups
CMM-Brasil.
A intenção aqui é batermos um papo bem vontade sobre
exportação e inovação do Software Brasileiro. Antes de
começarmos, conte-nos um pouco de sua grande caminhada
profissional, sua empresa, etc. até chegarmos aos dias
de hoje: um profissional que possui "Gerência de Projetos no
Código-genético". Muito Obrigado!

-IVO MICHALICK: Minha formação (graduação e mestrado)
foi em Ciência da Computação no
DCC da UFMG, uma instituição bastante conceituada no mercado
nacional. Nestes 22 anos de trajetória profissional já fiz muita coisa,
vou tentar sumarizar:

- 10 anos em projetos de automação industrial, em segmentos como
eletricidade, defesa, oil & gas, dentre outros;
- 3 anos trabalhando nos Estados Unidos, gerenciando um dos projetos
de desenvolvimento do SIVAM;
- 5 anos trabalhando com projetos de P&D, com recursos de instituições
como FINEP, ANEEL e MCT (Lei de Informática);
- atuação como gerente de projetos internacionais de desenvolvimento
de software desde 1998;
- vários artigos publicados em revistas e anais de congressos e
seminários, sobre temas ligados a gerenciamento de projetos;
- a partir de 2004 passei a ter uma atuação profissional 100% focada
em gerenciamento de projetos, deixando mais de lado a atuação
como técnico
(até então sempre busquei trabalhar os dois lados). Obtive naquele
ano a credencial PMP do PMI, tornei-me voluntário do PMI-MG,
capítulo
mineiro do PMI, onde atualmente ocupo a V.P. de Certificação e
Estudos Técnicos, passei a dar aulas, ministrar cursos, publicar
artigos e
apresentar palestras sobre temas ligados a gerenciamento de
projetos, programas e portfólios (PPPM - Project, Program and
Portfolio Managament).

Estou na Vetta Technologies, uma empresa mineira que desde
seu início buscou uma atuação internacional, desde o final do ano
passado. Coordeno o nosso PMO, gerencio alguns projetos de
desenvolvimento de software e sou responsável por uma unidade de
negócios de consultoria em PPPM.

No Yahoo! eu coordeno alguns grupos de discussão sobre temas
de meu interesse, dos quais o mais conhecido é o CMM-Brasil, que
criei no final de 2004.

Bom, acho que é isto.

-MOLINARI: Gostaria de aproveitar o fato de ter saido na mídia
recentemente a nova pesquisa do IBGE, a
Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec 2005), e ter sido publicada
no final do mês de julho deste ano.
Quais suas primeiras conclusões a respeita dela?

-IVO MICHALICK: Houve melhorias, mas bem abaixo do que está
acontecendo em países concorrentes. E acho que nossas empresas
ainda dependem muito de
recursos financiados ou a fundo perdido originários de órgãos públicos
de fomento, ainda temos pouco difundida a cultura de que vale a pena,
em termos de negócio, investir em inovação, tanto é que registramos
um número incrivelmente baixo de patentes por ano, considerando o tamanho
da nossa economia.

-MOLINARI: O que você acha do fato de São Paulo reunir mais
de 35% das empresas com perfil inovador (pesquisa
Pintec 2005), e os gastos com inovação das empresas paulistas
representarem 55% do bolo principal? Isso é
um fato importante...

-IVO MICHALICK: São Paulo ainda é a "locomotiva" da nossa
economia, e por ser um mercado mais competitivo conta com
empresas mais maduras, que sabem que
vale a pena investir em inovação.

-MOLINARI: Quais os outros mercados nacionais que merecem
atenção a curto e médio prazo? O sul do Brasil
é um polo de Qualidade de Software reconhecido. MG tem se aberto
cada vez mais e já começa ameaçar outros
estados, em termos de concorrência. O que você acha disto tudo?

-IVO MICHALICK: Eu não falaria exatamente em ameça, pois
nossa verdadeira concorrência
vem de fora. Acredito em pólos e APLs (Arranjos Produtivos Locais),
e acho que tem muita coisa interessante, puxada por agentes
SOFTEX e
representações estaduais do SEBRAE, dentre outras organizações,
em vários pontos distintos do país, como Santa Catarina, interior
de São Paulo (a região de Campinas impressiona, parece até que
estamos em outro país!), Recife (com o pólo tecnológico do
Centro Histórico),
Campina Grande, sul de Minas e Manaus, dentre outros.

-MOLINARI: Em termos de inovação, as Telecomunicações,
Informática e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) lideram
o ranking na pesquisa da PINTEC 2005, ao mesmo tempo a
industria tradicional perdeu espaço na inovação. Isso
é uma tendência clara, ou apenas foto momentânea?

-IVO MICHALICK: Por conta da Lei de Informática e do foco
de boa parte dos editais da
FINEP e das agências estaduais nestes setores isto é uma
consequência natural. A indústria tradicional reduziu investimentos
devido ao baixo
índice de crescimento registrado nos últimos anos, e a continuar
desta forma corre o risco de perder cada vez mais espaço
para a concorrência
externa. Infelizmente, no momento acho que esta é uma tendência
clara, e não apenas momentânea.

-MOLINARI: Até quando o setor de informática será um dos
líderes deste índice?

-IVO MICHALICK: Acho que sempre, pois este é um setor
importante de apoio à Inovação nas empresas.

-MOLINARI: Recentemente em relatório levantado pela revista
inglesa The Economist colocou o Brasil a
Frente da Índia no ranking de Inovação de TI. Isso é um bom ou
um mau sinal? O que isso mostra de fato? O que devemos fazer
para subir de fato no ranking de forma consistente?

-IVO MICHALICK: Li e ajudei a divulgar o relatório entre
colegas brasileiros - ele pode ser obtido gratuitamente
em http://tinyurl.com/24knct
, e acho que não dá para ficarmos satisfeitos por hoje estarmos
à frente da Índia, pois eles começaram a partir de um ponto
bem pior do
que o nosso, como aconteceu com a Coréia do Sul, hoje
bem à nossa frente. Isto mostra que temos muito trabalho pela frente,
se quisermos
nos manter competitivos num mercado internacional cada vez
mais interligado. O que fazer? Isto seria tema para um verdadeiro tratado,
mas aqui vão alguns pontos:

1. Reduzir o famigerado "custo Brasil";
2. Reforçar a política de formação de APLs que levem em conta
as vantagens comparativas das regiões em que estiverem inseridos.
Exemplo positivo:
indústria aeronáutica na região de São José dos Campos.
Hoje a EMBRAER pode ser a maior, mas não é a única empresa
da região que exporta;
3. Rever o formato de boa parte de nossos cursos superiores de
formação mais técnica, em especial as engenharias,
pois está claro que
os recém-formados estão com uma formação dissociada do que
vem pedindo o mercado;
4. Investir no ensino do inglês, língua universal dos negócios
(ao menos por enquanto, afinal os chineses estão vindo com tudo!);
5. Rever a situação cambial, que está dificultando demais a vida de
pequenas empresas que exportam produtos e/ou serviços.

No caso de cada um de nós, é preciso investir o tempo todo
em capacitação e crescimento profissional. Temos que
estar prontos para
agarrar a primeira oportunidade de atuação internacional
que surgir diante de nós, pois mesmo que ela não venha
isto nos deixa melhor
preparados para o mercado de trabalho local.

-MOLINARI: Inovação é sinônimo de exportação?
Qual a relação deste binômio com mercado brasileiro?

-IVO MICHALICK: Depende do segmento, mas acho que
fora o de commodities (se bem que mesmo neste segmento
inovação pode ser uma vantagem competitiva - tem
gente no Brasil literalmente "tirando ouro de pedra!) todo
segmento que queira exportar tem a ganhar com investimento
em inovação e melhoria de
processos. Vale de novo o exemplo da EMBRAER, e ainda
o da nossa indústria automobilística, que nos últimos anos
parece que acordou e
hoje exporta uma parcela significativa de sua produção local,
mesmo com a atual situação cambial.

-MOLINARI: Coma anda de fato a exportação do Software
Brasileiro? É possível dar-nos um painel global?

-IVO MICHALICK: Este é um dos problemas, NÃO é possível
dar um painel global objetivo, pois o governo ainda não achou uma
forma de descobrir quanto exportamos
de produtos e serviços de software por ano. Mas posso dizer, com
base nos números que têm sido divulgados, que ainda é muito
pouco (da ordem
de centenas de milhões de dólares), se considerarmos o tamanho
do nosso mercado interno (da ordem de U$10 bilhões)
e o que andam fazendo nossos
concorrentes. Temos empresas indianas que sozinham
xportam acima de U$1 bilhão/ano.

-MOLINARI: Se uma típica média/pequena empresa desejasse
exportar o seu software. Quais os primeiros
passos? Muitas barreiras?

-IVO MICHALICK: Barreiras há, mas se temos pequenas
empresas de outros segmentos exportando isto não deve ser
tão difícil assim, certo? A própria Vetta,
empresa onde trabalho, exporta desde que nasceu.
O que uma empresa pode fazer para conseguir isto?

* Capacitar-se em processos/modelos/metodologias/padrões com
aceitação internacional, como CMMI e Guia PMBOK do PMI.
* Aumentar o número de funcionários fluentes em língua inglesa.
* Buscar entender as demandas e a cultura de negócios do cliente
internacional, de preferência focando-se num país
ou região específicos.
* Investir em pesquisa & desenvolvimento.
* Buscar participar, sozinho ou na forma de consórcio, em eventos
e feiras no exterior. Um site em inglês num
domínio .com e um pequeno
escritório na região-alvo certamente ajudam.
* Investir em relacionamentos e parcerias externas.
Boa parte do sucesso de empresas indianas e chinesas com exportação
de software veio
de contatos feitos por alunos de pós-graduação destes países
que permaneceram nos Estados Unidos trabalhando
depois de formados.
* Melhore sempre! Seus concorrentes estão sempre de olho
no seu mercado, até antes de você pensar no deles.

-MOLINARI: Qual o impacto das soluções Opensource tanto
na inovação e na exportação de software? O
governo tem incentivado o uso do OpenSource...

-IVO MICHALICK: Para mim é difícil falar disto, pois minha
experiência com Open Source
é mais de usuário de ferramentas, que por sinal estão entre
as melhores do mercado. Ainda não gerei receita trabalhando
diretamente com Open
Source, e tenho dificuldade em entender o modelo de negócio,
mas sei que tem gente que tem conseguido ganhar
dinheiro com software open
source.

-MOLINARI: Você tem algum caso ou alguma grande lição,
que você aprendeu em Gerênciamento de Projetos quando
lidamos com inovação ou exportação?

-IVO MICHALICK: Sim, gerencie riscos o tempo todo,
pois o potencial para ganho ou perda tende a ser muito maior
neste tipo de projeto.

-MOLINARI: Para terminar, alguma coisa em especial que
você deseja completar que seja relativo aos assuntos
que tocamos aqui?

-IVO MICHALICK: Sim, recomendo aos leitores que nunca
parem de se aperfeiçoar, o ritmo do mundo está cada vez
mais acelerado e temos que acompanhar isto se
quisermos nos manter competitivos e globalizados (isto é,
em condição de trabalhar em qualquer lugar do mundo).

-MOLINARI: Muito obrigado!!!

-IVO MICHALICK: De nada!

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